Da luta contra a obesidade à luta pela aceitação: a jornada de Cecília
Por Wesley Luiz Costa Ribeiro, jornalista (MTB 0023749/MG)
A obesidade é um tema frequentemente discutido sob a perspectiva clínica, mas seu impacto psicossocial ainda é marginalizado. Cecília, 21 anos, transforma sua vivência em um manifesto potente: sua história não se resume a números na balança, mas à corajosa transição da luta contra o peso para a luta pela autoaceitação. Seu relato desafia a narrativa de que corpos gordos precisam de “conserto”, propondo em seu lugar um radical exercício de autopercepção.
Marcas da exclusão: Quando o corpo vira obstáculo
A memória de entrar em lojas e não encontrar roupas do seu tamanho revela uma violência cotidiana:
“Levava o que tinha por não achar o que eu queria.”

Esse relato sintetiza a experiência de milhões de brasileiros que veem a moda – instrumento de expressão – transformar-se em lembrante de sua “inadequação”. A psicóloga social Ana Cláudia Bortolozzi (UNESP) afirma que “a dificuldade de acesso a roupas é uma das primeiras formas de exclusão percebidas por jovens gordos, gerando sentimentos de invisibilidade”.
A Virada: Quando a balança deixa de ser Inimiga
Cecília desconstrói o mito de que aceitação é sinônimo de conformismo:
“Não é sobre romantizar a obesidade, é sobre se amar!”
A fala ecoa o conceito de “body neutrality” (neutralidade corporal), movimento que propõe o fim da guerra contra o próprio corpo sem ignorar questões de saúde. Para a pesquisadora Giovana Zucatto (UFMG), “a autoaceitação não anula a autonomia sobre decisões de saúde, mas remove o ódio como motivador”.
“Nós Somos resistência”: O corpo como território político
A declaração “Nós somos resistência!” ressoa como um ato político. Dados do IBGE (2023) mostram que 26% dos brasileiros adultos vivem com obesidade, mas seguem subrepresentados na mídia e no mercado. A pergunta “Vocês, gordinhas, já se amaram hoje?” opera como:
- Denúncia da gordofobia estrutural
- Convite à prática revolucionária do autocuidado
Para além da tolerância, o direito à existência plena
Cecília não propõe um final feliz, mas um caminho de libertação. Como registra o filósofo Peter Sloterdijk: “A sociedade disciplina os corpos antes mesmo de formar mentes críticas”. Sua história nos convida a questionar: quantas Cecílias ainda carregam culpas desnecessárias por não corresponder a padrões impossíveis?
A verdadeira revolução, sugere a narrativa, começa quando trocamos a pergunta “Como emagrecer?” por “Como me libertar?”.
Acompanhe Cecília pelo Instagram: https://www.instagram.com/ceci_souza09/