Por Portal Agora Vale do Aço
A ex-funcionária pública Madalena Pereira de Sousa, de 68 anos, enfrenta um grave quadro de saúde após uma sequência de atendimentos médicos que, segundo a família, apresentaram falhas, atrasos e omissões tanto no hospital quanto no atendimento domiciliar prestado pelo município de Ipatinga. Debilitada e acamada, ela depende de cuidados diários, materiais específicos e tratamentos complementares — que, conforme relatado pela família, não estão sendo fornecidos de forma regular pelo poder público.
Do mal-estar inicial à perda de movimentos
No dia 10 de julho, Madalena procurou atendimento na UPA de Ipatinga após se sentir mal. De acordo com a filha, Ana Laura Pereira de Sousa, de 25 anos, ela recebeu alta no dia seguinte, sem exames mais profundos, com um diagnóstico de trombose. Uma semana depois, seu estado piorou drasticamente: febre, vômitos, falta de ar e perda dos movimentos do abdômen para baixo.
No dia 10 de agosto, a família acionou o SAMU e, ao chegar à UPA, segundo o relato, Madalena ficou largas horas no corredor, em uma maca quebrada, sem medicação adequada, mesmo apresentando sintomas graves. A transferência para uma ala interna só ocorreu após insistência da família e exposição da situação nas redes sociais.
52 dias de internação e uma ferida que se agravou dentro do hospital
Durante os 52 dias de internação, Madalena desenvolveu uma escara sacral, inicialmente pequena, mas que evoluiu para uma lesão grave. A família afirma que a infecção teve início no ambiente hospitalar e foi agravada por falta de avaliação especializada e uso de materiais inadequados.
Segundo Ana Laura:
- A equipe de curativos teria demorado dias para avaliar a ferida;
- Técnicos teriam utilizado esparadrapos e materiais que machucavam a pele, mesmo após pedidos para evitar esse tipo de procedimento;
- O tratamento indicado, com óleo de girassol e hidrogel, teria piorado o quadro, gerando odor forte e avanço da lesão;
- Não foi realizada cultura ou biópsia antes da alta, apesar dos pedidos da família.
No dia 2 de outubro, Madalena recebeu alta já com a ferida extensa e sinais de infecção.
Nova internação e confirmação da infecção
No final de outubro, a ex-funcionária voltou ao Hospital Municipal e ficou mais sete dias internada, quando a infecção foi confirmada. Após a alta, o caso passou a ser acompanhado pelo Serviço de Atenção Domiciliar (SAD) de Ipatinga.
Falta de insumos e risco ao tratamento
No início, o SAD forneceu corretamente os materiais prescritos. Mas, em menos de duas semanas, segundo a família, começaram a faltar insumos essenciais:
- placas especiais para ferida;
- solução de limpeza;
- soro fisiológico em quantidade suficiente;
- barreira protetora.
Com a irregularidade dos materiais, Ana Laura relata ter precisado comprar insumos por conta própria, realizar rifas e procurar o Conselho Municipal de Saúde para que o abastecimento fosse restabelecido — o que, segundo ela, ocorreu apenas temporariamente.
Na última avaliação médica, foi recomendada a utilização de uma placa e meia por dia, além de solução e barreira. No entanto, ao buscar os materiais, a família afirma que foi informada de que receberia apenas uma placa para sete dias, procedimento considerado incompatível com a gravidade da lesão e capaz de colocar Madalena em risco de agravamento.
Família luta sozinha e busca apoio
Madalena vive com o marido, Manoel Freire dos Passos, de 67 anos. O casal mora sozinho, e, devido às limitações físicas da paciente, Manoel depende da ajuda da filha Ana Laura para organizar a rotina, acompanhar consultas e garantir os cuidados diários.
Ana Laura precisou deixar o emprego para se dedicar integralmente à mãe. Segundo ela, a situação se tornou insustentável diante das constantes faltas de insumos e da ausência de suporte contínuo.
“Eu só quero que minha mãe receba o mínimo de cuidado que qualquer paciente merece. Moram só ela e meu pai, e ele faz o que pode. Eu estou cuidando sozinha, sem condições financeiras, e ainda assim os materiais faltam. Está difícil demais”, desabafa.
Sem apoio consistente, a família agora tenta buscar alternativas como ozonioterapia e câmara hiperbárica, tratamentos que poderiam auxiliar na cicatrização e evitar complicações mais graves.
O que diz a Prefeitura de Ipatinga
A reportagem procurou o município para esclarecer:
- Por que a paciente recebeu alta sem exames conclusivos;
- A razão da ausência de cultura ou biópsia da ferida antes da alta;
- Os motivos das falhas no fornecimento de materiais pelo SAD;
- A conduta recomendada para casos de feridas extensas e infectadas;
- Como o município pretende garantir o atendimento contínuo.
Até o momento, a Prefeitura Municipal de Ipatinga não deu nenhuma resposta.
O espaço permanece aberto para manifestação.
Direito ao tratamento
O Sistema Único de Saúde (SUS) garante assistência integral ao paciente, incluindo fornecimento contínuo de materiais, curativos especiais e acompanhamento domiciliar adequado. A falta de insumos pode configurar omissão de assistência e comprometer a recuperação.
Situação atual
Dona Madalena segue acamada, com mobilidade limitada e ferida em estado delicado. O quadro exige cuidados diários, materiais específicos e monitoramento constante. A família continua buscando ajuda para garantir que ela receba o tratamento necessário para evitar novas infecções e risco à vida.